Monday, August 28, 2006

Antes de você chegar


Estou degustando o prazer estranho da quietude.
Fico parada, silenciosa ouvindo tudo ao meu redor
como se disso dependesse minha sobrevivência.
Tenho o coração descompassado pelas horas que não passam,
tenho febre, e escrevo como se vomitasse o embrulho
que se acomoda dentro de mim.
Estou sofrendo de dor que não passa.
Uma dor aguda que me penetra.
É a dor da beatitude,
a dor do coração escancarado e cheio de paixão.
E assim me entrego ao silêncio ruidoso da noite,
ao silêncio pulsante de dentro.
Sou um gato de movimento lento
pra não acordar ninguém.
Mas esta ânsia me devora, por dentro, por fora,
acende e apaga a luz, pensa e esquece,
dorme e amanhece, parece nunca chegar ao fim.
Parei.
Estou contemplando a imobilidade mínima do meu corpo.
É frio, fresco, é bom.
E meu corpo enclausura a loucura desta noite,
a intensidade que se acumula neste pequeno mundo
de carne viva,
vai tencionando, tencionando só esperando
o momento da bombástica explosão metafísica do amor.