Friday, March 23, 2007

Praia de Outono

O mar vem quebrando
e
n
v
i
e
s
a
d
o
luz, sombra e movimento
um capricho do vento

nesta tarde ensolarada
me entrego ao ócio
pesada

brisa na pele é sonho
aqui dentro escuro
lá fora pensamento

me de a delícia de um dia
lindo de solidão
um pouco de ar
um pouco de chão

Tuesday, March 20, 2007

Esconderijos miseráveis

Quando a ultralógica deste escuro te separa de tudo, estás fora;
Quando tens o cérebro do tamanho do planeta e tua tristeza é do tamanho do planeta;
Quando tua garganta molhada de álcool, tráfico e drama, dramas acadêmicos, chatices administrativas, queres tua casa;
Quando tens a casa dentro do corpo, peito que salta, busto clássico, queimado por chamas de vulcão, sem música, sem mística;
Quando tosse teu peito respira curto, esfumaçado, afogado neste maço vagabundo;
Quando sonhas com Woody Allen tocando trompete num bar em Nova Iorque, lembras que estás em Florianópolis;
Quando enterrado em alucinações coloridas, vem Cruz e Sousa dizendo que desistas, pois teu futuro não tem nome, nem simbolista nem surreal;
Quando ficas ouvindo intelectualóides falando de Godard, James Joyce e Big Brother, fazes de conta que está entendendo e concordas com tudo que dizem, somente para fazer parte; patético;
Quando chegas num estranho churrasco sanguinolento e libidinoso, promovido pela sociedade secreta dos perdidos em Bosch, ela ainda se importa!
Quando tudo e todos são muito insuportavelmente chatos, repetitivos e superficiais de mais em seus radicalismos;
Quando entendes que a cerveja que tomas paga aquele fulano armado que nem conheces e que dizem talvez possa te proteger;
Quando teu coração ébrio insiste em te esconder de ti mesmo, porque sabes que tu não consegue entender os anjos guardados por todos os cantos;
Quando vendo pouco, vivendo pouco, bebendo o suficiente para ser perseguido por Freud, você é salvo pela caneta daquela mulher gostosa e pelos guardanapos do boteco decadente;
Quando escrevendo frases indecentes você acha que pode escapar de Moloch, da tua incerteza e dos engasgos nessa tua garganta enrugada mais a mais a cada dia;
Eu sonso, trabalho pelas tuas viagens que meu sorriso consente.

por Evaristo Tanon