Monday, October 30, 2006

Um inebriante descontrole

Teu silêncio pesa minha boca colada no escuro,
E a cortina de estrelas se desmonta ruidosa
De cacos sobre nossas cabeças.
É a minha vibração de calar que te fala o desejo.
Teu cheiro naquele abraço curto, quente,
Embaraçado, me convidava a querer ficar
Mais um pouco no calor macio dos teus braços.
Num salto abre-se um espaço de uma vida
De distância, até a próxima vez que eu te
Encontrar, ainda distante.
E aí vou me derramar dentro do sonho,
Dentro do flerte cortante do teu olhar.

Pequena série de coisas sem fim

Fome do homem
Sono do gato
Delícia do ato

Corte na carne
Apito da praia
Tomates a quem vaia

Botão para a camisa
Botão para vitrola
Botão do elevador

Amiga Marisa
Vizinha carola
Pão e pescador

O sim, a mão, grana
Casa para quem ama
E amanhã tudo de novo

Monday, October 02, 2006

A MÁQUINA DO MUNDO

E como se não houvesse metafísica
Nexo ou ciência formidável
Para vendar o que de certo se vê

Com olhar torto, o eco das edificações
O brilho das edificações, o glamour
Das edificações, a majestade da edificações

A natureza mítica das edificações
Em constante evolução plástico-metálica-cinzenta
Pelo espaço vertical do tempo.

A bela ordem geométrica da fumaça anônima
Por onde os raios de sol apontam
Ainda que dolorosamente ardentes,

Para iluminar e contemplar a desordem
Proposta pelos mesmos corações solitários
Impregnados de ciência, metafísica e nexo.

A máquina do mundo vem descendo o morro
Lenta e forte, abastecida de bala, pó e sangue
É Moloch, o comedor de sonhos, trabalhos e vidas.

É o movimento da periferia ao centro,
O transbordamento das margens enegrecidas
E ácidas de canos de ferro e silêncio.

A máquina do medo, não há morte que a pare,
A máquina do poder, não há lei que a cesse,
A maquina do vício, não abstinente.

E como se houvesse um nexo, uma ciência
E uma metafísica explicativa, demonstrativa
Operante e destrutiva

Que deslocada do cartesianismo compra o
Nexo das facções guerrilheiras e vende segurança.
A máquina do mundo é tolerável e não pára.