Monday, August 20, 2007

ESCOLHAS

Escolhi as palavras e os silêncios. Dentre tantos que escolhi, estes foram os melhores. Escolhi os extremos de cores e luzes explodindo...cegueira, os exageros e inundações que doem, poluem, inventam, porque há muito ainda que ser inventado, sujo e doloroso.
Fumei a minha última angústia. Fumei afetos.
Estou repleta de tanto e ainda é tão pouco.
Escolhi a mistura líquida do amor e mesmo que arda, não troco.
Escolhi penetrar absurdamente no mundo do outro que é um pouco de mim, um mapa de mim, caminhos para o lugar certo.
Fumei a ânsia que mastiga minhas entranhas, fumei tudo, até o último anel de fumaça. Daí me senti tão bem e sossegada que logo quis acender outra.
Fumei teus cabelos, teus dentes, teu sexo. Fumei a lembrança achando que era saudade, só notei que era lembrança porque ela voltou.
Ela sempre volta.
Só compartilho vidas e parece que tudo na realidade é diferente. Quando olho de perto, há ali um deserto sertanejo que só se expande, que é pardo, que não tem salvação.
Mas não há só deserto. Haveria sim se o mundo fosse um deserto, um Saara, um Atacama, um Gobi, Antártica...Marte.
Quando olho de perto, atrás do olhar, vejo flores e mares e fogo, o olho de um furacão; Barcelona, Roma e Pompéia, no presente e no passado de terror cravado nos olhos de quem viu Versuvio uivar.
E como uivam os vulcões de cada outro. O meu que só eu sinto, uiva mais.
Achei feio chamar alguém de outro, mas agora não tenho saída pois o alguém é incógnito e o outro é aquele imediato a mim, que relacionado a mim está perto, e de mim recebe toda a atenção.
Poderia apaixonar-me pelo outro mas prefiro não. Isto implicaria em sentir uma dor de que já estou gasta. Escolhi amá-lo. De um amor imaculado, guardado na lista das coisas que amo mais. Depois não sei. Guardo este amor que para mim vale, valeu, valerá quando chegar a hora de olhar para trás.
E onde posso me guardar se minha casa é como uma concha, como uma casca de tartaruga onde não entro? Minha casa será o oceano. Virarei coisa, peixe, palavra.
Minha palavra escrita fica bem mo meio da linha, como carne espetada. A palavra é a carne e a pauta a espada. Se isto é vida ou morte, ou vida com dor e depois morte, ou vida com dor e depois vida, é a coisa palavra que decide. E eu fico aqui, seguindo ordens.
Esta é uma nota de expiração. Inspirei, inspirei, inspirei tanto que inflei como um balão e antes de estourar...escrevo.

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