Escrever uma nota bonita sem sujeito
cheirando a poesia e soando como Puccini
salva a vida de quem precisa,
de quem mora na danação.
Escrever o Mar, o Céu e esta praia longe
onde o azul tem mais outras cores
é ser e estar sem sujeito.
João Cabral transformado em voz e olhar
viajando numa flecha derramada
pois é líquido o amor,
e a lembrança que dói e sorri.
Escrever é coisa da mão que está para a natureza da folha,
caída folha de inverno faz nua a árvore
veste de pardo o chão.
É também um exagero, um transbordamento
não cabe no ser miúdo das coisas.
Não cabe naquela moça tanta beleza
nem tanta certeza no meu coração.
O vento sabe o que faz.
Tem um plano secreto e leva com ele
quem se transforma em migalha.
Conheci a praia do Sono
uma preguiça só
lá me transformei em migalha.
Lá, cães e corpos curtem dias e noites infindáveis
é lá onde mora a eternidade.
Migalhas de eternidade levadas pelo vento
me aparecem com teu beijo
e o sol e os cães e eu, que não sou mais nada que solidão
esperamos preguiçosos o meio olhar da lua
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